Orgulho e potencial de autistas em Santos têm nome: arte

Um jovem desce as escadas carregando uma mala pesada. Cansado, cai. Depois precisa de ajuda para se levantar. Este foi o resumo da performance apresentada pelo estudante Fernando Cristóvão da Silva, 13 anos, que usou de metáfora para falar sobre a vida: às vezes pode ser pesada, mas podemos substituir várias coisas que encontramos pelo caminho por sentimentos como amor, amizade e empatia. "A vida é como um sorvete, aproveite antes que derreta", ensinou o jovem.

Visitantes percorrem exposição

A performance de Fernando marcou a abertura da 1ª Exposição de Arte e Música - Orgulho Autista, promovida pelo Centro de Reabilitação e Estimulação do Neurodesenvolvimento (Cren). A entidade municipal (100% SUS) atua há quase dois anos no Marapé, atendendo pessoas com transtorno do espectro autista (TEA).

A desenvoltura de Fernando com a encenação é natural, mas sua mãe, Andressa Cristóvão da Silva, conta que ele tem de ser convencido a atuar. Estudante da 7ª série, Fernando gosta mesmo é de ser mestre de RPG de mesa, onde interage com amigos em uma atividade que pode se estender por mais de quatro horas.

Fernando (na foto, com a mãe) fez performance sobre a vida

Entre as atrações musicais do evento, um grupo encantou os participantes com uma versão de "De janeiro a janeiro", de Roberta Campos. Uma das cantoras foi Cawany Cristine Ripardo, 18. "A escolha do repertório teve a ver com o evento, com as pessoas envolvidas", contou a estudante que, assim como Fernando, participa das atividades no Cren duas vezes por semana.

Mãe de Cawany, Gilcelle Ripardo destaca que as atividades artísticas ajudam a diminuir a ansiedade da filha. Em casa, elas costumam se divertir em sessões de caraoquê.

Na escadaria e no piso superior do Cren estavam expostas obras criadas pelos atendidos da unidade, entre as quais uma colagem, denominada Girassóis, criada por Arthur Miguel dos Santos Lino, Mateus Kenzo Kobama, Pedro Guilherme de Oliveira Manenti e Vinícius Marçal Santos, inspirada nas obras do artista Jacson Pollock.

Aluno posa para foto orgulhoso do trabalho

Diretora do clínica-escola, Thamyres Figueiredo afirmou que esta exposição, que seguiu até o meio-dia, foi a primeira de outras iniciativas similares que serão realizadas pela instituição. "Eles prepararam as obras por três meses. O objetivo foi mostrar o orgulho e o potencial de cada um".

Exposição foi a primeira, antes da unidade completar dois anos de funcionamento

Programação também teve apresentação musical

RECONHECIMENTO

O secretário de Saúde de Santos, Adriano Catapreta, acompanhou a exposição e destacou a atuação da entidade. "Temos de parabenizar o trabalho de excelente qualidade realizado aqui. Como poder público, é nossa missão desenvolver mecanismos para que as pessoas com TEA sejam acolhidas e estejam 100% integradas na sociedade".

O Cren completa dois anos de atividades em outubro, atendendo 120 pessoas de todas as faixas etárias. Os encaminhamentos para o atendimento são feitos após avaliações nas policlínicas de Santos.