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Há exatos 100 anos, primeiras famílias japonesas desembarcaram em santos

Publicado: 17 de junho de 2008
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O primeiro grupo de imigrantes do Japão chegou ao porto de Santos há exatos 100 anos, em 18 de junho de 1908, data oficializada como Dia Nacional da Imigração Japonesa. Eram 781 pioneiros, que desembarcaram do vapor ‘Kasato Maru’, abrindo caminho para milhares de outros japoneses que fizeram do Brasil a sua pátria. Entre 1908 e 1968, estima-se que 250 mil japoneses desembarcaram no porto de Santos – tanto que a cidade chegou a ser conhecida como ‘Porta do Sol Nascente’. A vinda das primeiras famílias era fruto de um tratado entre a Companhia Imperial de Emigração do Japão e o Governo do Estado de São Paulo, que tinha por objetivo suprir a carência de mão-de-obra para as lavouras de café paulistas. Após desembarcarem em Santos, eles seguiam de trem para a Hospedaria dos Imigrantes, em São Paulo, de onde eram encaminhados para fazendas do Interior. Alguns grupos acabaram se fixando ou retornando a Santos, onde se dedicaram à produção de hortifrutigranjeiros em pequenas chácaras da Ponta da Praia, Aparecida, Embaré e Santa Maria. As primeiras famílias aqui estabelecidas eram provenientes de Okinawa, e se dedicaram à agricultura e à pesca. Durante anos, a cidade foi abastecida pelas verduras, legumes e frutas produzidos pelos japoneses. A 2ª Guerra Mundial modificou os planos das que viviam em Santos. O Brasil rompeu relações com Japão e Alemanha em 1943, e, em nome da segurança nacional, imigrantes das duas nacionalidades tiveram que se retirar de uma faixa de 50 quilômetros do Litoral. Encerrado o conflito, alguns voltaram e firmaram raízes na cidade, integrando-se à comunidade como exemplos de trabalho, dedicação e disciplina. ASSOCIAÇÃO A guerra também gerou um outro dissabor para os japoneses que estavam em Santos: o governo federal confiscou o imóvel onde, desde 1929, funcionava a Associação Japonesa de Santos, à Rua Paraná, 129. Ali funcionava uma escola para as crianças, com ensinamentos básicos, contaram o presidente da entidade, Hiroshi Endo, e o diretor de Relações Públicas, Shitiro Tanji. Hoje, a comunidade comemora a restituição da casa aos japoneses e descendentes, oficializada em dezembro de 2006. Um dos que mais lutaram pela recuperação do imóvel, foi o comendador Arata Kami. Aos 86 anos, é reconhecido como um dos mais importantes elos entre os japoneses daqui e do seu país de origem. Foi um dos fundadores da Associação e da Casa de Reabilitação Social, que dava apoio aos imigrantes e hoje atende idosos sem família. A importância do seu trabalho foi reconhecida nos dois países: recebeu o título de Cidadão Santista e a condecoração Ordem do Sol Nascente, atribuída pelo imperador Akihito. Kami e a esposa Kinuko consideram Santos o seu lar, e mesmo mantendo tradições milenares japonesas, adotaram hábitos bem brasileiros: torcem pelo Santos FC e não resistem ao prato brasileiro preferido: arroz com feijão e bife. INFLUÊNCIAS MARCANTES Santos recebeu influências das famílias japonesas que aqui se estabeleceram, as quais fazem parte da vida local nos mais diversos setores. As marcas estão na nossa economia, na cultura, na culinária, nos esportes e até mesmo na fé. Muitos descendentes se casaram com brasileiros, crianças e jovens se integraram perfeitamente à comunidade local, e a cultura oriental começou a ser mais difundida. Uma das novidades até então pouco conhecida dos brasileiros foi o cooperativismo. Em Santos – mais especificamente na Ponta da Praia - a experiência foi aplicada na pesca. Os imigrantes que já trabalhavam como pescadores no Japão introduziram novas técnicas de captura. Fundaram na década de 50 a Cooperativa Mista de Pesca Nipo-Brasileira, que inspirou a criação de outros grupos de trabalho na cidade. Os japoneses sempre tiveram a tendência de se agrupar, principalmente os da primeira e segunda geração, contou Hiroshi Endo. Modalidades esportivas introduzidas pelos japoneses caíram no gosto da população local. Foi em Santos que o Mestre Yoshihide Shinzato começou a ensinar o caratê e se tornou o principal divulgador do esporte na América Latina. A cidade também é hoje um pólo nacional de judô, com campeões de renome internacional. A arte dos ‘ikebanas’ e ‘bonsais’, os ‘origamis’, o ‘hai-cai’ e o ‘karaoke’ também são marcas da cultura japonesa, a qual tem como pontos de honra o respeito aos idosos e a preocupação com a educação das crianças e jovens. No campo da fé, as influências nipônicas se traduzem nas inúmeras sedes e adeptos da Igreja Messiânica e do Seicho-No-Iê. Festas como a gincana ‘Undo-kai’, danças e cantos foram preservadas por entidades e clubes de origem nipônica, como a Associação Atlética Atlanta. Mas é a culinária que se destaca como uma das principais influências na vida do santista. Unida à tradição da pesca e da produção de verduras e legumes que garantem os ingredientes de qualidade, a cozinha japonesa ganha cada vez mais admiradores na cidade. Além de vários restaurantes, o Estrela de Ouro FC mantém atividades esportivas e promove todos os anos o ‘Festival do Peixe’, que já se tornou uma festa conhecida na cidade. UM ANO DE COMEMORAÇÕES A prefeitura instituiu, em 2006, uma Comissão Coordenadora das Comemorações do Centenário da Imigração Japonesa para o Brasil, formada por representantes do poder público, da colônia japonesa e colaboradores. Desde junho de 2007, o grupo vem organizando uma série de eventos alusivos à data, visando resgatar tradições e fortalecer os laços de amizade entre Santos e o povo japonês. A programação desta quarta (18) começa às 7h30, com homenagem aos pioneiros junto ao Monumento aos Imigrantes Japoneses, na Praia do Boqueirão (defronte da Avenida Conselheiro Nébias). Às 8h, acontece a deposição de flores no túmulo do intérprete Sakai Mine, que veio na viagem do ‘Kasato’, no Cemitério do Paquetá. Três navios da Esquadra da Marinha japonesa - ‘Kashima’, ‘Asagiri’ e ‘Umigiri’ - chegam ao porto de Santos, no Armazém 31, com cerimônia de boas-vindas programada para as 9h. O ‘Kashima’ estará aberto à visitação pública no sábado (21), das 10h às 11h30, e das 13h às 16h. Na quinta (19), recebe visitas especiais de grupos de idosos e estudantes. O monumento ‘18 de Junho’ será inaugurado no porto, às 17h, em frente ao armazém 14, onde desembarcaram os primeiros imigrantes. Nele estão escritos os nomes de todas as 165 famílias que chegaram no ‘Kasato Maru’. A homenagem é uma iniciativa da Votorantim Celulose e Papel, atual arrendatária do armazém 14. No sábado (21), chega a Santos o príncipe herdeiro Naruhito. Ele visita a Associação Japonesa, às 10h15, e às 11h20, chega à plataforma do Emissário Submarino, onde participa da inauguração da escultura da artista plástica Tomie Ohtake, comemorativa aos 100 anos da imigração. A comitiva japonesa passará defronte do monumento da Praia do Boqueirão e almoçará no Estrela de Ouro, encerrando a visita no armazém 14, às 13h20.