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Giovanni, um adolescente santista ligado na escola, paqueras, futebol e planos de trabalho

Publicado: 20 de março de 2022 - 12h10

LUIGI DI VAIO

Acordar animado para uma aula de matemática? Sim, e como! Desta forma começou a madrugada da última quinta-feira (17) para Giovanni Teixeira Felício, 16 anos, aluno da UME Ayrton Senna da Silva. Ainda estava escuro quando ele saiu da cama - tinha deixado a TV ligada na noite anterior, um hábito não tão raro. 

Sua mãe, a artesã Marcia Cristina Costa Teixeira, também já estava acordada. Espreguiçando, ele foi até a cozinha preparar o achocolatado.  A corrida contra o relógio apenas começava. Depois do banho e da higiene bucal, separou bolachas para o lanche da manhã. Nem precisou arrumar a cama. Calorento, dorme sobre os lençóis, o que faz com que a cama pareça que sequer foi usada. A mochila com cadernos e livros estava pronta desde a véspera, quando também tinha caprichado no novo corte de cabelo - um estilo um pouco militar, bem curto nas laterais, usado por vários jogadores de futebol.

A TV ainda ligada passava um episódio de Tom & Jerry, mas não havia tempo para diversão. Rápido, desceu as escadas do apartamento onde mora com a mãe e o irmão Bruno, 27 anos, que dormia depois de uma longa noite de trabalho. Seu irmão mais velho, Leonardo, 33 anos, vive na Irlanda.

AMOR POR 'PETS' E PELO SANTOS

Do apartamento no Campo Grande até a escola são poucos minutos a pé. No caminho, ele nos conta da vontade de trabalhar em um 'pet shop' perto de casa e da paixão pelo Santos - ainda espera o pai (Walter Felício Netto, árbitro de futebol de salão e futsal) o levar para ver um jogo na Vila Belmiro.

A paixão por animais nutre desde quando nasceu. Ele ficava esparramado em um edredom, no chão da sala, com Mel, uma dócil boxer. "Ele passou a engatinhar e a andar cedo para ficar perto dela", lembra a mãe. A parte 'pet' da família é hoje composta por um casal de gatos, Star e Cristal.

Um pouco tímido, Gi, como é chamado pelos familiares e amigos mais próximos, revela que acha bonita uma colega de classe, de seus estudos à tarde. É uma garota, de sua idade, de cabelo preto com tons de castanho.

Quando não está na escola ou na frente da TV, Gi passa algum tempo vendo vídeos do 'infuencer' Luccas Neto no YouTube. Não que a fama do maior influenciador infantil o impressione - logo ele, que fez sua primeira cena no cinema aos 15 dias de vida, no filme Querô, do diretor Carlos Cortez. A estreia nas telas foi em grande estilo: nos braços da atriz Maria Luísa Mendonça. Foram quatro cenas gravadas, a última com 30 dias de vida.

A manhã de sol, depois de uma quarta-feira de chuva forte, o inspirou para cantar o refrão de "O Sol", hit de Vitor Kley, ao chegar à porta da escola, onde esperava um de seus melhores amigos, Augusto, que naquela manhã estava atrasado.

O relógio batia 7h e ele subiu as escadas até sua sala sem o companheiro. Depois de cumprimentar a turma, a professora de matemática Léia Silva escreveu na lousa a lição do dia: "Números irracionais". Gi já estava com o caderno aberto e, ao seu lado, se sentou a mediadora Flávia Cristiane de Lima Meira, que o ajuda nos estudos.

UM DIA NORMAL

Esta segunda-feira (21), Dia Internacional da Síndrome de Down, será um dia como qualquer outro para Giovanni - o fato de ser um adolescente com síndrome de Down praticamente não afeta em nada sua rotina. Além da matemática, gosta das outras atividades da escola. "Ele tem um raciocínio lógico impressionante, é muito esforçado", revela Flávia Cristiane. A professora Léia Silva completa: "Ele é empenhado, se interessa e, quando não entende, pergunta mesmo. A relação com os demais alunos é ótima".
Na avaliação de Léia Silva, a atual geração está lidando muito melhor com pessoas com síndrome de Down do que a geração anterior. "Esta interação é fundamental. As crianças estão totalmente integradas".

'SOCO NO ESTÔMAGO'

A realidade citada por Léia Silva e Flávia Cristiane, que acompanham o processo educacional de Giovanni, contrasta radicalmente com a realidade vivida pela mãe dele, após o parto. "Não espere 100% dele. Espere 80% e se chegar a 60% já está bom", ouviu Marcia Cristina de um médico, ainda no quarto do hospital. "Aquilo foi um soco no estômago. Fiquei sem chão", contou a mãe. 

Os primeiros dias com Giovanni no colo foram dramáticos para a mãe, que não sabia interpretar quando o filho estava com fome, e tinha medo que ele engasgasse com a saliva. Quando o bebê completou 30 dias, a mãe já contou com o forte apoio da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), onde ainda hoje ele passa as tardes. "A Apae é minha segunda casa. Só tenho a agradecer por tudo o que fazem por ele até hoje".

Para Marcia Cristina, a autonomia que o filho alcançou hoje é fruto da dedicação da família e da competência dos profissionais da Apae. "O amadurecimento dele é grande. Agora, ele só fala em querer trabalhar".

CONFIRMA A PROGRAMAÇÃO DA SEMANA DA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A SÍNDROME DE DOWN

Galeria de Imagens

Giovanni está sentado na cama coberta por edredon.
Calorento, Giovanni não se cobre e não desfaz a cama
Giovanni escova os dentes na frente do espelo. Ele está de costas para a foto e seu rosto refletindo no espelho. #paratodosverem
Rotina começa antes do sol nascer
Giovanni arruma o cabelo com as mãos. #paratodosverem
Cabelo segueo estilo de muitos jogadores de futebol
Giovanni coloca caderno dentro de mochila. #paratodosverem
Giovanni se prepara para sair
Giovanni sai de casa com a mãe. eles estão passando pelo portão do prédio. #paratodosverem
Giovanni sai de casa com a mãe
Giovanni está sentado na carteira da escola sobre a qual estão um caderno, estojo e skeeze. #paratodosverem
Começa a aula
Giovanni está sentado. sala de aula está cheia. A professara está ao fundo da imagem, na frente da classe, diante de lousa. #paratodosverem
Giovanni escreve em livro. #paratodosverem
Giovanni está sentado com a auxiliar de classe ao lado dele. #paratodosverem
Aluno é acompanhado por auxiliar
Giovanni está com auxiliar sentada ao lado dele. Ele escreve em livro. #paratodosverem