Seu navegador não possui suporte para JavaScript o que impede a página de funcionar de forma correta.
Conteúdo
Notícias

Congressistas aprendem com programas de aids/hepatites do município

Publicado: 18 de junho de 2003
0h 00

Com mais de 400 participantes, em média, em cada conferência, a cargo de grandes especialistas de várias partes do Brasil, além de concorridas mesas-redondas, com temas que contemplaram avanços científicos na terapia, avaliação dos serviços SUS, pesquisa, prevenção e direitos dos portadores, o 1º Congresso Santista de Aids/DST/Hepatites foi encerrado ontem (18). O evento cumpriu plenamente seus objetivos de proporcionar troca de experiências e oferecer novos conhecimentos aos profissionais da Saúde, assistência social, universitários e demais interessados. Os serviços de Santos ganharam inúmeros elogios, assim como a grade científica apresentada. Nos intervalos dos debates, profissionais de todo o Brasil acompanharam com interesse os posters de trabalhos científicos, expostos no saguão do Mendes Convention Center. Santos se destacou nessa exposição, com trabalhos de epidemiologistas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O material apresentado pelo Município esteve relacionado ao surgimento de vírus resistente, transmissão vertical, dados positivos da redução da transmissão materno-infantil, o grande número de treinamentos realizados - já alcançaram mais de 6.500 profissionais - e pesquisas diversas entre as quais, do Craids, onde cerca de 4.500 cadastrados de Santos e de municípios vizinhos recebem tratamento com os modernos coquetéis anti-retrovirais e apoio psicossocial. HEPATITE É DESTAQUE Entre os serviços proporcionados pelo Município e elogiados por muitos congressistas, figurou a inclusão das hepatites nas ações da Coordenadoria de DST/Aids, fato que ocorreu de forma pioneira há dois anos, pela SMS. As congressistas da Cidade de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, responsáveis pelo programa de Aids daquela cidade, Joana D`Arc Wittnam, e de Prevenção, Ilmara Pinheiro consideraram esse trabalho, a grande novidade do evento. Para elas, o pioneirismo de Santos é um exemplo para as demais cidades do País, tendo em vista que as hepatites representam o novo desafio da saúde pública. Organizações não-governamentais e portadores também tiveram espaço em várias mesas-redondas, entre as quais a sobre direitos humanos, discutindo-se o preconceito, que ainda existe em relação ao portador; a necessidade dos serviços públicos estarem dando maior atenção à mulher soropositiva (que mereceu uma mesa-redonda específica), sobretudo quando ela pretende exercer o direito à maternidade. A importância de todos os setores da sociedade terem mais acesso à informação e mais insumos à disposição, como preservativos, também foi ponto de consenso. Santos distribuiu no ano passado um milhão de preservativos. Discutir de forma aberta a questão da sexualidade na terceira idade, e entre mulheres de único parceiro, segmentos onde a Aids vem avançando, teve como defensora a advogada e membro da RNP de Porto Alegre, Maria Beatriz Pacheco. PREVENÇÃO CONSISTENTE Uma das propostas levantadas pela representante da Coordenação Nacional de Aids, Denise Doneda, é a da prevenção consistente, com otimização de recursos existentes, projetos voltados a populações vulneráveis e maior envolvimento da população civil. A criação, na estrutura das prefeituras, de cargos permanentes de agentes de prevenção, atuando independentemente de verbas enviadas pelo Ministério da Saúde (que muitas vezes sofrem descontinuidade e prejudicam a educação continuada) foi defendida pela representante local da área da Seaids. E a medida é bem fundamentada. Mesmo desacelerada, a epidemia registra, a cada ano, cerca de 21 mil casos novos no País, especialmente entre jovens e mulheres de único parceiro. A feminilização, pauperização e envelhecimento são as tendências da epidemia no País, assim como a interiorização, ou seja, a Aids, depois dos grandes centros, avança em pequenas cidades. PESQUISA E PREVENÇÃO A questão da importância da pesquisa como aliada da prevenção foi abordado pelo pesquisador americano Herman Hearst, um dos principais conferencistas do evento. Antes de sua palestra, Herman lembrou de alguns trabalhos já realizados em Santos, do qual participou, entre os quais pesquisas feitas entre portuários e caminhoneiros. O estudo indicou a prevalência das doenças sexualmente transmissíveis e Aids nesses segmentos e ajudaram na implementação de projetos específicos para esses trabalhadores, já implementados pelo Município. Entre as mensagens positivas, o professor da Universidade de Califórnia abordou o crescimento da expectativa de vida entre os portadores de Aids, que se situava em apenas sete meses entre os infectados de 82 a 89, passando para cinco anos, entre portadores que adoeceram entre 95 e 96. É possível agora, com novos tratamentos disponíveis, que haja crescimento dessa expectativa de vida, o que será dimensionado nos próximos anos. Entretanto, apesar dessa maior sobrevida, o pesquisador não tem dúvidas que a maior conquista é o bom trabalho de prevenção. ALVOS Populações vulneráveis, aproveitamento máximo dos recursos existentes e a experiência baiana da ação dos Agentes Comunitários de Saúde foram os principais aspectos desenvolvidos no bloco Os Avanços da Prevenção do 1° Congresso Santista de Aids/DST/Hepatites. Na primeira parte das atividades, foi levantada a questão do que seria vulnerabilidade, mostrando aos participantes que não há um público delimitado e que todos, em algum momento de sua vida, podem estar mais sensíveis aos riscos de contaminação. Segundo o mestre em epidemiologia pela Universidade da Califórnia, Edgar Merchan Hamann, o trabalho de intervenção para prevenir deve ser integral, atingindo a instância micro social (família) e a macro social (comunidade, sociedade organizada). Hamann abordou os problemas encontrados nesses espaços para o trabalho preventivo, como a não aceitação do tema em debates familiares e a cultura machista presente nas relações sociais. Na sequência, a Assessora Técnica da área de prevenção da Coordenação Nacional de DST/Aids, Denise Doneda, expôs sobre a questão de recursos existentes para o trabalho, como campanhas e projetos (tanto do governo como de organizações populares). Denise afirmou que o mais difícil dos recursos é o humano: Hoje o principal insumo a ser discutido é o do recurso humano. Como contratar, capacitar e integrar. O fim do bloco foi coordenado pela médica da Universidade Federal da Bahia, Eliana Ornelas, que trouxe a experiência de Salvador da parceria entre o Programa de Redução de Danos (PRD), Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs) e Programa de Saúde da Família (PSF). Eliana mostrou a importância do uso de pessoas das próprias comunidades assistidas no combate à infecção, através de oficinas de sexo seguro e distribuição de seringas e filtros para crack, droga que teve o consumo aumentado na região. Numa outra mesa-redonda do dia, esteve em pauta a Profilaxia Pós Exposição, com enfoque nos casais sorodiscordantes, situações de acidente de trabalho e abuso sexual. TRANSIMISSÃO MATERNO-INFANTIL A Transmissão Materno-Infantil foi o tema central de mesa redonda realizada ontem pela manhã (18), no 1º Congresso Santista de Aids/DST/Hepatites. Renomados especialistas, como o ginecologista do Centro Municipal de DST/Aids de Porto Alegre, Regis Kreitchmann; o infectologista do Ministério da Saúde, Eduardo Campos, e a pediatra da Coordenação Estadual de DST/Aids de São Paulo, Luiza Matida, estiveram presentes para debater o assunto. Regis Kreitchmann falou sobre a situação da transmissão vertical em Porto Alegre. Segundo uma pesquisa, foi constatado que a taxa de transmissão materno-infantil do HIV está em 3,2% nessa cidade. De 343 partos, 11 bebês foram contaminados. Em Santos, a redução foi significativa, passando de 12 casos em 92, para 2 em 2001. Ele destaca que uma parte significativa de mulheres está descobrindo sua soropositividade durante o pré-natal. Fato que preocupa a comunidade médica, uma vez que a transmissão vertical pode ser evitada com o tratamento adequado, utilização de anti-retrovirais e aleitamento artificial. ALTO ÍNDICE DE TMI NO BRASIL Segundo o médico infectologista do Ministério da Saúde, Eduardo Campos, a incidência de transmissão materno-infantil no País está em 16%. Um índice considerado alto, pois o risco de contaminação é reduzido a cerca de 1%, quando são realizados os procedimentos corretos, os quais devem ser iniciados antes da gestação, como adesão ao tratamento, utilização de anti-retrovirais e aleitamento artificial. Outra situação preocupante é da sífilis congênita, doença que é estimada em 2% das parturientes, ou seja, atinge uma média de 60 mil novos casos por ano. Eduardo ainda apresentou o Projeto Nascer-Mortalidade, que foi implementado pelo Ministério da Saúde no ano passado e tem como objetivo diminuir a transmissão vertical do HIV, de 16% para 8%, e da sífilis congênita por meio de testes rápidos, que são realizados pelos serviços de saúde, antes do parto, nas parturientes que não fizeram o teste durante o pré-natal, além de intervenções profiláticas. EPIDEMIOLOGIA Já a pediatra da Coordenação Estadual de DST/Aids de São Paulo, Luiza Matida, deu um panorama da epidemiologia no Brasil e no mundo. Ela comparou o crescimento da doença em mulheres, entre o ano de 1980 e 2002. Enquanto na década de 80 a diferença era de 15 casos masculinos para um feminino, agora existem dois para um. INFECÇÕES SORO-POSITIVAS Num clima descontraído, o ginecologista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Geraldo Duarte, falou com seriedade e mostrou imagens de diversas infecções vaginais que prejudicam a mulher, em especial a soropositiva, em mesa-redonda realizada ontem pela manhã (18), no 1º Congresso Santista de Aids. Segundo ele, as infecções vaginais mais comuns em mulheres soropositivas são a candidíase, o HPV e o herpes. Essa última infecção aumenta em oito vezes as partículas do vírus HIV. Mas a doença mais preocupante em soropositivas é a Chamydia Trachomatis, que aumenta a agressividade do vírus em 18 vezes. A psicóloga do Núcleo de Estudos para Prevenção de Aids da USP (Nepaids), Neide Silva, abordou o direito da mulher soropositiva à gestação. Ela acredita que o serviço de saúde deva oferecer ao usuário um melhor diálogo, para que as mulheres, em especial, possam falar sobre as suas queixas e os anseios, como o de ter um bebê, por exemplo. Ao invés de gerar uma criança sem tratamento, deve ser oferecido a ela uma análise prévia das condições de sua saúde.