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Bonde volta aos trilhos

Publicado: 21 de setembro de 2001
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No dia 23 de setembro de 2000, um pouco da história do transporte coletivo de Santos foi resgatada pela Prefeitura de Santos. Quase 30 anos depois do último bonde circular na Cidade, um exemplar da década de 20 saiu da garagem da Companhia de Engenharia de Tráfego, onde permaneceu por 10 meses como um paciente na UTI, totalmente restaurado nas suas características originais. Por horas, dias e meses a fio foi tratado e recuperado com zelo e carinho por um grupo de funcionários da CET, com o apoio dos técnicos do Rio de Janeiro. O projeto em parceria com a Secretaria de Turismo (Setur), tem sido, desde então, o mais fotografado e filmado do País nos últimos tempos, e veio inaugurar a linha turística do Centro, integrando o projeto de revitalização da região histórica de Santos. Esse tempo todo, o veículo elétrico não esteve sozinho: em muitas viagens ele puxa um reboque do final do século 19, também recuperado pela CET, e que há mais de 100 anos circulava pelas ruas de Santos como um bonde puxado a burro. Desde que entrou em funcionamento, a Linha Turística do Bonde, atrai passageiros de todas as idades e já transportou quase 100 mil usuários. Desses, pouco mais de 30 mil viajaram gratuitamente, que são crianças de entidades filantrópicas e de escolas públicas agendadas pela Setur. A passagem custa R$ 0,50, e nestes tempos de racionamento de energia elétrica, o bonde funciona de terça-feira a domingo, das 11 às 17 horas. Anteriormente, era até as 19 horas. O trajeto completo, passando pelos principais pontos históricos do Centro, é de 1.700 metros e leva quase 15 minutos. O ponto inicial é na Praça Mauá, seguindo pelas Ruas General Câmara e Comércio, Largo Marquês de Monte Alegre, Rua Tuiuti, Praça Barão do Rio Branco, Rua Augusto Severo e Praça Mauá. COOPERAÇÃO DO RJ O acordo de cooperação técnica firmado com a Companhia de Transportes Coletivos (CTC) do Rio de Janeiro, que opera o sistema de bondes do bairro de Santa Tereza, foi fundamental para a recuperação do bonde turístico de Santos. Os contatos iniciais mantidos em meados de 1999 com o gerente daquela empresa, engenheiro Bernardo Stille Neto, permitiu a troca de experiências e uma parceria importante, com informações sobre as instalações elétricas e mecânicas essenciais ao desenvolvimento do projeto de restauração dos exemplares de bondes existentes em Santos. Um representante da CET-Santos esteve inúmeras vezes na empresa carioca para conhecer o projeto dos bondes de Santa Teresa. Santos e Rio de Janeiro sãs as duas únicas cidades da América Latina a contar com bondes elétricos. Santa Tereza opera com 11 bondes numa percurso de 10 quilômetros, que servem como meio de transporte massa. A instalação dos trilhos e dormentes em todo o trajeto do bonde turístico foi iniciada em 26 de abril de 2000 na Rua Tuiuti, junto à Praça Barão do Rio Branco. VEÍCULO SEGURO O bonde turístico foi totalmente restaurado em suas características originais. Apesar de ser um veículo do começo do século, a equipe de engenheiros da CET procurou recuperar os dispositivos de segurança da época. Entre outras peças, foi recuperado o relê de sobre-corrente (espécie de caixa com alavanca automática), que garante proteção dos motores em caso de curto-circuito. Um outro aspecto importante foi a recuperação do sistema original de freios, que passou a contar com o serviço hidráulico adicional. O bonde tem iluminação e sistema de alarme originais, uma campainha de latão acionada pelo pé do motorneiro. O veículo possui, ainda, uma grade protetora (de ferro e madeira) em ambas as frentes, que protege os pedestres ou animais na via pública. ANTIGOS FUNCIONÁRIOS DA SMTC NO BONDE TURÍSTICO Graças ao projeto Vovô Sabe tudo, da Secretaria de Ação Comunitária e Cidadania (Seac), a CET recebeu inscrições de 12 antigos motorneiros e condutores de bondes. Três foram selecionados para atuar como instrutores do bonde turístico, contribuindo com sua experiência e conhecimentos sobre Santos e o serviço de bondes: Adhemar Erico do Nascimento, 64 anos; Aderbal de Godoy, 70 anos, e José Soares Fontes, 73 anos. Adhemar do Nascimento também foi condutor de bonde de 1959 até 64. Trabalhou em todas as linhas, mas apesar do trabalho que gostava muito, tem lembranças tristes de alguns colegas que sofreram acidentes porque passavam do bonde para o reboque, e vice-versa, e acabavam caindo no meio. Morreram vários, conta. Já Aderbal de Godoy foi motorneiro da linha 10 por 16 anos, até 1970. Como tantos outros companheiros da época do serviço de bondes, Aderbal transportava jornais, nas primeiras horas da manhã, e ia deixando nas bancas conforme parava o elétrico. José Soares Fontes trabalhou como motorneiro de 1959 até 1971, na linha 13, que fazia o trajeto Ponta da Praia/São Vicente. Depois que acabou o serviço de bondes, e para não perder o costume de dirigir, foi ser manobrista na garagem de ônibus do Jabaquara, até se aposentar em 1983. QUEM SÃO OS MOTORNEIROS DO BONDE? Pedro Paulo de Jesus tem 45 anos e muitos anos de experiência na condução de veículos automotores. É motorista da CET-Santos, onde entrou por concurso e dirigiu muito tempo o ônibus do cine-trânsito do Programa de Educação para o Trânsito. Foi motorista de ônibus da CSTC quando a empresa ainda operava o transporte coletivo e chegou a conduzir grandes carretas com cargas perigosas pelas estradas. Também motorista da CET há vários anos, dirigindo qualquer um dos veículos da frota da empresa - caminhão ‘munck’, plataforma, ônibus, kombi etc, Ricardo de Souza Dias, 33 anos, é outro motorneiro do bonde turístico. Ambos foram selecionados, no ano passado, entre os mais de 40 motoristas da Companhia para conduzir o veículo elétrico, e durante uma semana passaram por intenso treinamento na Companhia de Transportes Coletivos do Rio de Janeiro. A tripulação do bonde turístico é completada por dois ex-cobradores da CSTC, que atuam como condutores (denominação da antiga função de cobrador nos bondes. PREFEITURA JÁ RECUPEROU 2 DOS ÚNICOS 3 EXEMPLARES DE BONDES DA CIDADE De um total de três raros exemplares existentes em Santos, o bonde turístico do Centro Histórico de Santos é o segundo veículo do gênero totalmente restaurado e recuperado nas suas características originais, desde 1997. A equipe especializada da Companhia de Engenharia de Tráfego já havia trabalhado na recuperação do bonde do Gonzaga, que está instalado na Praça das Bandeiras e funciona como posto de informações turísticas e atrativo de santistas e visitantes. Entregue pela Prefeitura em setembro de 1999, exatamente um ano antes do bonde do Centro, o veículo do tipo camarão (fechado) também passou por serviços de restauração, já que a ação do tempo e a maresia haviam contribuído para a sua deterioração. Uma vez que esse exemplar fica fixo no local, os seus motores foram retirados, recuperados nas oficinas da CTC do Rio de Janeiro e instalados no bonde aberto do Centro Histórico. Um terceiro e último exemplar de bonde elétrico em Santos encontra-se nas oficinas da CET-Santos, passando pelo mesmo e delicado trabalho de recuperação. CET RESTAURA O ÚLTIMO BONDE ELÉTRICO DE SANTOS Em outubro de 2000, um bonde do tipo fechado, chamado de ‘camarão’, foi transferido da Creche Candinha Ribeiro de Mendonça, onde era utilizado como local de recreação pelas crianças, para as oficinas da CET-Santos. Até o final do ano, CET e Secretaria de Turismo pretendem colocá-lo nos trilhos do Centro Histórico de Santos. Efetivamente, os trabalhos começaram em janeiro deste ano, e no geral sua estrutura estava em boas condições. A última reforma data de 1970, poucos meses antes da retirada desses veículos do transporte público de Santos. Todo o madeiramento original vai ser aproveitado. As partes de marcenaria, funilaria, elétrica e mecânica estão sendo recuperadas na CET. Caixilhos, janelas e bancos de madeira são feitos na marcenaria da empresa. As janelas já estão prontas. Os bancos novos serão exatamente iguais ao único banco remanescente do veículo, que acabou servindo de modelo. O engenheiro Marcos Rogério G. Nascimento, que está à frente da equipe de funcionários, explica que a reconstrução do bonde é um trabalho muito delicado e que exige paciência e dedicação. O primeiro carro fechado entrou em funcionamento no dia 1º de setembro de 1954, e o processo de fechamento dos veículos abertos teve início em agosto de 1953. A medida foi tomada por segurança, em razão de quedas de passageiros, e para evitar a evasão de receita, já que muitos passageiros, em especial homens, desembarcavam sem pagar a passagem. Os bondes começaram a circular em Santos em 1909, encerrando suas atividades, como serviço de transporte coletivo, em fevereiro de 1971.

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