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Amigo desde criança de covas, maia cita qualidades desse líder

Publicado: 5 de março de 2001
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Quando quer definir a admiração que sente pelo homem e pelo político Mário Covas, o engenheiro e ex-secretário de Obras da Prefeitura, Luiz Alberto Maia, que estudou com o menino Mário no Colégio Santista, e foi seu companheiro de trabalho durante alguns anos no Departamento de Obras da Prefeitura, diz uma frase que costumava comentar com seus filhos. Sou um homem privilegiado. Nasci no mesmo século que Pelé, Frank Sinatra e Mário Covas. Fã ardoroso do Santos FC tanto quanto o amigo de infância, Maia assistiu, ao seu lado, a incontáveis partidas do Santos, na Vila Belmiro e também na Capital, e juntos, pelo amor ao futebol, integraram um dos times mais combativos do Colégio Santista, atuando como atacantes. Maia era ponta-esquerda, Lula (o advogado Luiz Pereira de Carvalho), ponta-direita, e Covas, o centroavante. No futebol ele era extremamente briguento. Não agredia fisicamente mas reclamava da arbitragem, dos adversários, dos companheiros de equipe. Reclamava de tudo, citando que ali já apareciam características marcantes de Covas - intransigência, combatividade e correção. Um homem absolutamente íntegro, diz convicto. E foi o ponta-direita Lula, um amigo fiel que colaborou nas campanhas políticas de Mário que, há cerca de dois meses, liderou uma caravana de cerca de 30 amigos que almoçaram no Palácio dos Bandeirantes, a convite de dona Lila Covas, preocupada com a tristeza que estava tomando conta do governador licenciado. Foi o último contato de Maia com o amigo e padrinho de seu casamento, num tempo em que ele ainda não era político. Na data desse almoço o governador licenciado conversou pouco. Mesmo assim, ele ainda brincou com Maia, referindo-se ao seu filho Luiz Eduardo, hoje delegado do 7º Distrito, que, quando era criança esperneava e jogava os óculos longe quando ficava irritado. Ele ainda chuta muito as pessoas?, brincou Covas, lembrando dos pontapés que recebia do menino genioso. Não, hoje é delegado e ainda não recebeu nenhum aumento de seu governo, respondeu Maia, enquanto o governador rapidamente mudou de conversa e comentou evasivo: O dia está lindo hoje, não? Esse é o Covas, bastava ser amigo para ele não atender, resume Maia, colocando-se com orgulho entre os amigos que nunca pediram favores. E foi esse grupo, do qual Maia cita Michel Karaoglan, Arildo Cândia Barbosa, Eduardo Castilho Salvador, Durval Figueira, Carlos e Luiz Frigério, Roberto Rezende, Lula e Onésio, todos de Santos e alguns já falecidos, que participaram de outro almoço memorável, logo depois que Mário Covas foi eleito governador. Na ocasião, Covas quis reunir o mesmo grupo que participou da campanha à Prefeitura de Santos, em 61, quando perdeu para o também engenheiro Luiz La Scala Jr. Nesse dia Covas pediu que nós, que éramos os amigos desinteressados, que fôssemos os olhos de seu governo, criticando onde ele errasse. Maia acha que Covas foi um político dedicado e patriota. E conta com emoção uma passagem que aconteceu no final da década de 50, quando Mário chefiava a Divisão de Obras, mas ainda não havia ingressado na política. Nós passamos pela Câmara Municipal e ele disse: Meu sonho é sentar numa dessas cadeiras. Mal ele sabia que ocuparia cargos bem mais altos, revela o amigo, que destaca ainda a imensa capacidade que o ex-governador, ex-senador e ex-deputado federal teve para conquistar admiração entre os próprios adversários. Um exemplo: Covas assumiu a Secretaria de Obras, durante a gestão de José Gomes, que ocupou o posto de prefeito com a morte prematura de Luiz La Scala Jr., contra quem o iniciante Mário havia disputado a Prefeitura. Mas, na Secretaria de Obras, Covas ficou apenas alguns meses, relembra Maia. Ele saiu antes porque não agüentou as pressões, diz Maia, que também foi secretário de Obras, em duas oportunidades. Sem revelar que pressões seriam essas, ele conta um episódio que ficou marcante. Covas pediu sua demissão numa reunião aberta. E estava na platéia Oswaldo Aly (hoje diretor do Interior da Sabesp), que chegou a chorar pedindo para o prefeito não aceitar a demissão do Covas, pelo desempenho e integridade que tinha no cargo. Silvio Fernandes Lopes foi outro ex-prefeito, de partido adversário, que também colocava Mário como homem de confiança, diz Maia, citando o caráter exigente mas justo do ex-governador. Lembrou uma passagem, quando Mário chefiava o Setor de Limpeza do Departamento de Serviços Públicos, e determinou a limpeza de valas, que eram inúmeras em Santos, há 40 anos. Ele fixou a metragem por dia e o pessoal reclamou da meta diária. Então ele pegou a pá e ficou o dia inteiro limpando valas, demonstrando que era possível desempenhar a tarefa. Ele não pedia o que ele mesmo não podia cumprir. Era duro, muito duro, mas muito simpático. Brincava com todo mundo. Não conheço ninguém que não gostasse dele, mesmo os adversários políticos . Maia destaca também a grande unidade que sempre houve sempre na vida familiar de Covas, o casamento feliz com dona Lila e os três filhos que nasceram da união. Um dos momentos mais tristes de sua vida foi quando perdeu a filha Silvia, num acidente de moto. Suportou a dor com muita galhardia . Essas passagens foram relembradas por Maia, na última segunda-feira, dia 5, quando o estado de Covas era gravíssimo. Em vários momentos, os olhos do ex-secretário se encheram de lágrimas mas ele garantiu que não iria chorar, e também contou lembranças engraçadas. Mário era muito estudioso, levado, gordinho e brincalhão. Chegou a levar bomba no 3º ano científico. Ele não gostava de Biologia e relaxou com a matéria que não interessava para a área que nós iríamos estudar. Foi nessa época que os dois se afastaram por alguns anos. Maia foi cursar Engenharia na Faculdade Federal do Paraná, e um ano depois Covas ingressava na Escola Politécnica da USP, cursando paralelamente Química Industrial. Os dois ingressaram na Prefeitura na gestão de Antônio Feliciano, em 56. Covas saiu alguns meses depois mas retornou a convite de Silvio Fernandes Lopes, sendo os dois empossados em cargos no dia 31 de outubro de 57. Mário tinha então 27 anos, e trabalharam juntos até que ele partiu para rumos mais altos, elegendo-se deputado federal em 62. Anos depois, com a edição do AI-5, que fechou o Congresso e cassou vários políticos de expressão do País, Maia e outros amigos acompanharam, ao lado de Covas, as edições diárias no rádio, divulgando as novas cassações. Mário chegou a ficar preocupado com a demora da cassação de seu mandato. Ele era uma liderança expressiva da oposição. Seu medo era que pudessem pensar que ele tivesse qualquer tipo de ligação com o regime autoritário. Com seus direitos políticos cassados pelo período de 10 anos, Covas retornou à vida pública em 82 , prosseguindo uma trajetória exemplar na defesa da democracia. Essa é a imagem que sempre passou para nós. Um exemplo de integridade.