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A Potência do Autismo: Após conseguir emprego em Santos, jovem autista busca faixa preta e formação superior

Publicado: 31 de março de 2023 - 19h32

Giulia Santana Fonseca, 18 anos, tem uma vida agitada: de manhã vai para a escola, à tarde para o trabalho em uma drogaria em Santos, e, à noite, pelo menos quatro vezes na semana, treina caratê. Por mais cansativa que seja, a rotina representa uma vitória constante, pois todos os dias ela tem a oportunidade de provar o potencial do autismo.

Este depoimento dá sequência à série A Potência do Autismo, que o Santos Portal publica em comemoração ao Dia Mundial de Consciência sobre o Autismo, neste 2 de abril, para mostrar serviços públicos oferecidos a pessoas com  Transtorno do Espectro  Autista (TEA) e exemplos de pessoas que vivem nessa condição.

“Eu queria trabalhar, consegui; queria fazer um curso, consegui; queria aprender a ler e a escrever, consegui. Se tenho um objetivo, que hoje é chegar à faixa preta do caratê, também vou conseguir”, projeta a jovem que, por incrível que pareça, lidou com muita insegurança em relação ao futuro quando descobriu que fazia parte do Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

O diagnóstico veio quando ela tinha cerca de cinco anos de idade. A primeira a desconfiar que havia algo diferente em Giulia foi a mãe, ao constatar sua fixação em brincar com cubos coloridos e a aversão a lugares barulhentos e tumultuados. “Ela chorava por pensar que eu não iria conseguir ler e escrever e ter um futuro”, conta a menina.

Giulia aprendeu a ler na quinta série do ensino fundamental e, aos 16 anos, decidiu dar um passo ainda maior: fazer cursos para se preparar para uma vida profissional. A oportunidade foi oferecida pelo Centro Espírita Beneficente 30 de Julho (Vila Mathias), que promove a integração da pessoa com deficiência ao mercado de trabalho por meio do Programa Ser Eficiente, em parceria com a Prefeitura.

Atendente e recepcionista foram algumas das capacitações que Giulia concluiu junto ao programa. Através delas, foi chamada para participar de uma entrevista em uma rede de drogarias. “Aí começou a insegurança, ‘e se eu não passar? Tem muitos melhores do que eu’. Então minha mãe colocou na minha cabeça que ninguém é melhor do que ninguém, que era para eu ir e fazer do meu jeitinho. Aí quando fui chamada, não acreditei, eu tremi”, conta.

Giulia está prestes a completar cinco meses na função de assistente operacional na drogaria. Além do desenvolvimento profissional, o trabalho ainda deu a ela a oportunidade de fazer novos amigos. “Eles me tratam como um bebê”, brinca. “Sempre me ajudam e falam para, caso venha algum cliente grosso, eu não levar para o coração, porque me esforcei muito para estar aqui", afirma.

META É FAIXA PRETA

Mas essa não foi sua primeira conquista. Aos 10 anos, conseguiu convencer os pais a colocarem-na nas aulas de caratê. Um médico havia aconselhado que fosse matriculada em algum esporte para contribuir com seu desenvolvimento, e a mãe escolheu o balé. Como não gostou da atividade, Giulia pediu para seguir os passos do pai, que já praticava artes marciais, com o objetivo de se defender do bullying na escola.

“Já tinha diminuído bastante nessa época, mas as ‘brincadeiras’ de bater ainda continuavam, porque algumas crianças ainda implicavam comigo”, conta. Mesmo com medo de a filha se machucar, a mãe matriculou-a nas aulas, após o pai explicar que o caratê era uma arte de defesa. “Acharam que eu não ia adiante, mas estou até hoje. Fiquei mais forte, comecei a me defender e vou até para competições”, orgulha-se Giulia.

Já são oito anos no tatame, experiência que lhe rendeu a faixa marrom na arte marcial. O objetivo da carateca, agora, é partir para o próximo e último grau: a tão sonhada faixa preta. Além disso, vislumbra o ingresso em uma faculdade após terminar o ensino médio, que conclui ainda este ano. “Quero fazer Educação Física e abrir uma academia, ou ser militar, ainda não decidi”.

A única certeza é de que desistir não é uma opção. “Eu sofri muito com o bullying, tive depressão, mas agradeço por tudo, porque enfrentar tudo isso me deu forças para estar aqui hoje. Se você tem um objetivo, é só ir atrás que você vai conseguir realizar seu sonho, assim como eu consegui. Ser autista tem suas dificuldades, mas também temos muita força de vontade para enfrentá-las”, finaliza.