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Grupo Especial reúne 10 mil foliões na passarela do samba

Publicado: 24 de fevereiro de 2019 - 8h12

Andressa Luzirão e Camilla Costa

A lenda do rei português São Sebastião, a luta de Mandela e as belezas da pérola do Atlântico foram os três primeiros enredos do Grupo Especial que abriram a segunda noite do Carnaval santista, reunindo 10 mil pessoas na Passarela do Samba Dráusio da Cruz. Ainda teve picadeiro verde e rosa na avenida, homenagens a Adoniran Barbosa e ao sambista Aroldo Melodia, a história do Guaraná, contada pelos povos indígenas, e a religião Umbanda com toda inspiração para cura do mundo.

O começo dos desfiles, exatamente às 20h07, foi abençoado por uma chuva fraca para saudar a entrada dos 850 integrantes da Mocidade Dependente do Samba. Primeira colocada do Grupo de Acesso em 2018, a escola voltou este ano para o Grupo Especial e, na busca pelo seu primeiro título, desfilou uma das lendas mais míticas do folclore brasileiro. As 12 alas apresentaram o rei português Dom Sebastião que, encantado, busca até hoje o seu reino perdido na terra de Upaon-Açu (ilha grande para os Tupinambás).

Próxima da dispersão, a jovem Tássia Cavalcante Costa foi para o desfile do segundo dia preparada para ficar até a passagem da última escola. “Eu tenho as minhas favoritas, mas vale a pena assistir a todas, tanto que estou aqui de pé e firme. Vou até o final”. Em seguida, ela acompanhou a passagem de uma tribo africana como comissão de frente que abriu o desfile da Vila Mathias e mostrou a trajetória de luta pela igualdade racial de Nelson Mandela. A responsabilidade foi grande para o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Gabriel Rodrigues, 17 anos, e Angélica Paiva, 29, que representavam os pais do líder sul-africano. Nas costas de Angélica, um boneco simbolizando Mandela ainda bebê. “Além do peso de apresentar a história dessa figura histórica, representamos também toda nossa comunidade”, disse Angélica na adrenalina da concentração, minutos antes de entrar na passarela.

Piratas corsários, índios tupinambás, navegadores portugueses, jesuítas e pescadores ‘invadiram’ a avenida para mostrar a história, as tradições e as belezas da Pérola do Atlântico, como é internacionalmente conhecida a cidade de Guarujá. Foi o desfile da Mocidade Amazonense, com 1.200 componentes, que levantou o público, em especial com o ritmo contagiante da bateria. Um dos destaques ficou para o final do desfile, quando o último carro, chamado ‘Carnaval: o feitiço da ilha chegou’, levou pierrôs e colombinas para o baile de Carnaval.

CIRCO

A magia do circo foi verde e rosa com a União Imperial, que promete ser uma das favoritas deste Carnaval. A emoção de todos os participantes na concentração foi tomada pelo lema “porque nessa avenida nós vamos brincar”, em especial pelo ator e artista circense Marcos Frota, destaque no primeiro carro ‘Caravana da Alegria’, completamente inebriado por ver parte do seu mundo ali retratado em vários detalhes e com a presença de artistas e de várias crianças. Um verdadeiro picadeiro que abriu o desfile e encantou o público. “Falar do circo, só falta eu chorar de tanto amor”, disse o artista, emocionado durante todo o desfile. Na dispersão, ele desceu do carro abre alas para auxiliar a equipe na retirada do veículo da avenida. “O carnaval de Santos tem que ocupar o lugar dele no pódio, tem que trazer as pessoas para cá para curtir a Cidade, que é emblemática para o País atualmente e com um carnaval lindíssimo. Ganhei de presente participar de uma escola tão linda, foi um privilégio”, acrescentou Frota já no fim do desfile, cantando o enredo da escola com os demais foliões. Fazendo tradição no carnaval de Santos, a dançarina Scheila Carvalho também contribuiu com a alegria da agremiação. “Santos me abraçou e verde e rosa é minha paixão desde pequena. Esse enredo foi muito gostoso, pois envolve criança, que sou apaixonada. Desfilamos com muita garra e energia. A escola estava linda, colorida, alegre. Com fé em Deus a gente leva esse título mais uma vez”.

Em forma de samba, uma verdadeira crônica da vida do artista Adoniran Barbosa passou pela passarela no enredo da pioneira X-9, já na madrugada deste domingo. Diversas obras musicais do homenageado, como Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro e Apaga o fogo Mané, deram nome às alas formadas por 1.400 componentes, inclusive a das baianas, que representaram a canção As mariposa, também composta por ele. Ainda na concentração, os integrantes cantaram a famosa ‘Saudosa Maloca’, antes de pisarem na passarela. Entre os destaques, o carro abre-alas retratou os tempos de boêmia da cidade grande, com seus personagens e estereótipos. A última alegoria da agremiação também chamou a atenção do público ao mostrar a despedida de Adoniran e seu ‘retorno’ ao céu conduzido por anjos e sobre uma das referências mais significativas poetizadas em uma de suas obras, o Trem das 11. Um dos foliões mais animados era Fabiano Reis. “O Adoniran é um ícone do samba paulista e foi muito bem representado na X-9. Vamos comemorar um potencial título porque foi especial esse ano. Foi bacana representar o carnaval santista assim”.

 

Na madrugada deste domingo, a parte alta da Cidade desceu para a passarela do samba, levando a garra da escola Unidos dos Morros. Um dos maiores intérpretes de samba enredo de todos os tempos, Aroldo Melodia, foi homenageado pela agremiação, que tradicionalmente tem como comissão de frente o Balé Oficial da Cidade de Santos, sob o comando de Renata Pacheco. O desfile mostrou a importância das obras do artista nascido no Rio de Janeiro em 1930 e que começou na União da ilha do Governador em 1958, onde permaneceu por 36 anos como a voz que deu identidade à escola. Moradora da Vila Progresso, Neia Santos desfilou neste ano na ala das cabrochas e só conseguiu descrever a emoção dessa forma: “Amor, amor, amor. É inexplicável quando ouvimos o soar da bateria. É lindo ver a comunidade junta, cada ala de uma cor diferente, mas todos com a mesma energia”.

PEIXE

As arquibancadas ganharam uma animação extra a partir das 3h, com abertura de várias bandeiras do Santos Futebol Clube e da torcida Sangue Jovem para vibrar pela escola que iniciava o 'esquenta' para entrar na avenida com a lenda sobre a origem da planta guaraná, envolvendo um curumim cheio de vida, a tragédia nascida da inveja e o renascimento pelo fruto que simboliza energia. Doze alas, casais de mestres-salas e porta-bandeiras e três carros alegóricos encarnaram a garra da tribo Maué, conhecida pela coragem e força. O mestre da bateria, Ronaldo Ballio, garantiu minutos antes do desfile o agito da arquibancada, com o trabalho dos 130 ritmistas que ensaiam praticamente o ano todo. “Em abril, começamos uma vez por semana, incluindo as escolinhas; e três meses antes do desfile ensaiamos três vezes por semana”, conta ele sobre a importância do quesito para atrair crianças: “Tiramos muitas da rua e 30 delas estão conosco nesta noite”.

Faltava pouco para 4h30 quando a última escola, a Real Mocidade Santista, começou a entoar o hino da umbanda na concentração, emocionando os integrantes. A agremiação com 1.400 componentes reverenciou esta religião de matriz africana, apresentando na avenida uma grande gira de caboclo e preto velho. “Umbanda, alumia meu coração. São 110 anos com a benção de oxalá trilhando o caminho da cura” era um dos trechos do samba enredo cantados pelos foliões. Um dos destaques foi o primeiro carro, que simbolizou o nascimento da Umbanda e o poder da fé, representando o Grande Orum e também a Preta Velha benzedeira, os eres e o pai Oxalá.

Segunda noite de desfiles transcorre sem ocorrências graves

Tranquilidade e segurança marcaram a segunda noite de desfiles na Passarela Dráusio da Cruz, que transcorreu sem incidentes graves. Profissionais da Secretaria de Saúde atenderam cerca de 20 pessoas, a maioria por exaustão física, alterações de pressão e uso abusivo de álcool. Dois casos estiveram relacionados a traumas devido à quedas, que foram encaminhados à UPA Central por necessitarem de radiografia e avaliação ortopédica. Atuaram 25 profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros e condutores, com suporte de seis viaturas de prontidão, incluindo duas de suporte avançado, além do apoio de 32 bombeiros civis.

Já a Guarda Municipal não registrou ocorrências. Ao todo, 225 integrantes da GM e da Polícia Militar fizeram o patrulhamento nas áreas internas e externas da passarela, com apoio de suas viaturas.

Fotos: Isabela Carrari e Raimundo Rosa

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