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Garra e empolgação dominam desfiles das escolas dos grupos 1 e de Acesso

Publicado: 23 de fevereiro de 2019 - 10h38

Katia Locatelli e Maria Fernanda Kreling

Muita garra e empolgação marcaram o primeiro dia de folia na Passarela do Samba Dráuzio da Cruz. Nove agremiações dos grupos 1 e de acesso se apresentaram no sambódromo entre a noite desta sexta-feira (22) e a madrugada de sábado (23).

A primeira a desfilar foi a Dragões do Castelo, trazendo seus 600 componentes com o enredo ‘Entre o Sol e a Lua a Criação do Universo’. Com uma bateria composta por 120 integrantes, a escola de samba narrou uma ficção astrológica e citou temas como a criação, os quatro elementos (fogo, ar, terra e água) e trouxe importantes questões ambientais como poluição, destruição das matas e devastação do mar. O desfile se encerrou com uma ala de crianças denominada “conselho ao ser humano” com uma mensagem de fraternidade, partilha e amor ao próximo. A dona de casa Janaína Araújo, 31 anos, desfila na escola há três anos e, desta vez, trouxe seu filho Gabriel, 7 anos, para participar. “O mais legal foi vestir a fantasia e dançar muito”, contou o garoto.

 

A Unidos da Baixada homenageou seu fundador com ‘Bom de Bola, Bom de Samba, Sou Unidos de Verdade, Sou Cabeto, Sou Família e Também Comunidade’. Desfile inspirado em Carlos Alberto Leite Cerqueira, o Cabeto, homem que se destacou nos campos de várzea do litoral. “Adorei a homenagem. Devemos ser reconhecidos em vida”, disse o veterano, que saiu no carro abre-alas com o sobrinho Kauê, de 9 anos. Criado na Zona Noroeste, Cabeto, com 64 anos, jogou dos 13 aos 60. Profissionalmente, atuou no Jabaquara e no Santos. Na várzea, marcou presença no Rio Negro, Pérola e Flor de Maio. Ele fundou o time Unidos da Baixada, que depois deu origem à agremiação, fundada em 2007.

 

ANSIEDADE

No intervalo entre uma escola e outra, a ansiedade parecia tomar conta da técnica de enfermagem Gislene de Carvalho, 42 anos. Ela e sua família estavam na arquibancada para ver, pela primeira vez, o filho Luiz Gustavo, 19 anos, pisar na passarela e integrar a bateria da Padre Paulo. “Estamos todos ansiosos. Em casa, ele fica tocando aquela caixa todo dia, toda hora. Nossa torcida é que a escola suba novamente (para o Grupo Especial)”.

A terceira escola do Grupo 1 a entrar na Passarela foi a Imperatriz Alvinegra, com o tema ‘A Benção dos Orixás, Aláfia!’. Momentos antes de soar a buzina que tradicionalmente marca o início dos desfiles, muitos dos 460 componentes se concentravam, alguns se abraçavam e, em sua maioria, se aqueciam com movimentos de dança. Ao entrar, a bateria composta por 80 integrantes levantou a plateia com o enredo que trouxe particularidades de orixás, divindades que representam forças relacionadas à natureza.

 

‘Ecoa o Tambor!’ foi o enredo que motivou a Bandeirantes do Saboó a fazer bonito na Dráuzio da Cruz. “Vamos conseguir ir para o Grupo Especial!, afirmou, com brilho nos olhos, a moradora do Saboó Lika Borges, 38 anos, há 22 desfilando pela escola. Carioca, ela estava de baiana estilizada, rainha do afoxé. “No Rio de Janeiro sou Beija-Flor. Mas aqui este é o meu pavilhão, minha vida”. Os 400 componentes contaram a trajetória de um povo que veio de além-mar, trazendo com ele o atabaque, instrumento de percussão que no Brasil virou sinônimo de ritmo, de festas populares e religiosas. O presidente e um dos fundadores da agremiação, Geraldo Oliveira Paixão, estava confiante num desfile de sucesso, especialmente pelo apoio popular. “Todas as fantasias foram criadas e confeccionadas pela comunidade.”

 

A história do Brasil contada a partir das especiarias, temperos e condimentos foi o tema da Império da Vila, agremiação que encerrou as apresentações do Grupo 1. Usadas na culinária, medicina e cosméticos, as ervas, sementes e raízes foram citadas. O destaque esteve na homenagem prestada ao Grupo Tempero, cujos integrantes santistas alcançaram notoriedade nacional até a conquista do disco de Ouro com o álbum ‘Vida de Amante’. Temperos, aliás, é tema que faz parte da história da escola, como explicou Márcio dos Santos Pereira, 70 anos, integrante há 20 anos. “Já falamos sobre temperos há alguns anos e tivemos bastante sorte na ocasião. Agora, trouxemos nossa receita especial para mostrar nossa história, raça e samba para este público maravilhoso”.

 

Escolas do Acesso sonham com a volta ao Grupo Especial

Abrindo o Grupo de Acesso, a Unidos da Zona Noroeste entrou na avenida com 700 componentes, mostrando o enredo ‘Mulher, Seu Nome é Luta Pela Liberdade’, que apresenta as histórias de mulheres que marcaram época como a Rainha Ginga, de Angola; Tereza de Benguela, no Mato Grosso; Dandara, em Alagoas, e Luiza Mahin, na Bahia. Um dos responsáveis pela harmonia da escola, Raphael Bedeschi, 27, destacou duas novidades no desfile deste ano: as alas ‘plus size’ e de cadeirantes, com 22 integrantes cada. David Ramos, 38, contou que pela primeira vez sai na cadeira-de-rodas. “Conheci algumas pessoas na reabilitação e formamos um grupo. Estou feliz de voltar a desfilar”.

 

Na sequência, a mistura de culturas e raças criadas no Brasil com a chegada dos negros africanos foi narrada pela Padre Paulo, que trouxe a mensagem de um novo tempo de paz para todo o povo brasileiro. Com o tema ‘Orixás: a Grande Festa de Um Povo’, a escola - que possui mais de 500 componentes – abriu o desfile com uma encenação bastante realista sobre a opressão sofrida pelos escravos por seus senhores de engenho. A performance e as demais atrações da apresentação foram pensadas desde outubro pelo carnavalesco Jefferson Rosa. “Há mais de quatro meses planejamos tudo isso aqui. A escola passou por diversas dificuldades, mas os integrantes se superaram, se empenharam e hoje é noite de celebração. Todos estamos com uma expectativa muito boa”.

 

Os 1000 componentes da Escola de Samba Brasil desfilaram o enredo ‘Karajás’, com uma viagem pela floresta do Xingu e a saga de Aruanã, o peixe que sonhava em virar homem, e a criação do povo Karajá. Fundada há 69 anos e com 17 títulos, a agremiação busca a volta ao Grupo Especial. O presidente Oswaldo Cardoso informou que é a primeira vez que a escola conta com uma coreografia cenográfica. Osny Gouveia, 22, responsável pela performance, disse que os 12 integrantes, todos profissionais de dança, ensaiaram de três a quatro meses. “A coreografia tem duas partes: no fundo do mar, o habitat de Aruanã, e em terra, quando vira índio”.

 

Encerrando a noite, a Associação Beneficente Mãos Entrelaçadas chegou com seus 800 componentes em ‘Sinfonia Carioca’, que exalta os anos dourados cariocas e fala sobre os cassinos, cantores renomados e orquestras que movimentavam as noites da Cidade Maravilhosa, entre as décadas de 1930 e 1950, quando ainda era Capital Federal. De acordo com a presidente Lady Liyu, 37, esta é a quinta apresentação da escola, fundada em 2011. “A ideia do tema foi de nosso patrono, o jornalista J. Muniz, e do vice-presidente, Marcos Gouveia. “Abordamos o teatro de revista, a chanchada e o samba”.

 

GRUPO ESPECIAL

Neste sábado (23), às 19h30, a Corte Carnavalesca abre os desfiles, que iniciam às 20h, com oito escolas do Grupo Especial: Mocidade Dependente do Samba, Vila Mathias, Amazonense, União Imperial, X-9, Unidos dos Morros, Sangue Jovem e Real Mocidade Santista.

Fotos: Marcelo Martins e Susan Hortas

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