Da horta para a mesa: alunos de escola municipal de Santos plantam seus alimentos

Um alagoano simpático, de 62 anos, amante da natureza e amigo das crianças. Um autodidata que pesquisa muito a terra e as plantas. Assim é Benedito Vieira da Silva, o Tio Dito, que há 29 anos ensina gerações a desenvolverem uma horta na escola municipal Clóvis Bandeira Brasil, onde atua desde 1986 como agente de portaria.

“Tem ex-aluno que fez horta em casa inspirado nesta”, orgulha-se. Ele destaca que os 170 pequenos, do maternal ao pré, acompanham as transformações, do cultivo à colheita, uma vez por semana.

Dito informou que discute com os alunos e professores o que vão plantar. “A gente planta pensando no cardápio porque comemos na merenda da escola o que colhemos”.

Nos canteiros há batata doce branca e roxa, mandioca, inhame, feijão preto, alface crespa, coentro, orégano, banana roxa e citronela. Para o segundo semestre, a intenção é semear cenoura, beterraba, escarola, salsinha, tomate e cebolinha.

A professora do jardim A, Liliana Ayala, disse que seus alunos adoram ir à horta e que a atividade valoriza a escola. "Eles vão para outro ambiente. Como não têm muito contato com a natureza, pensam que os alimentos vêm do supermercado e, com a horta, aprendem a preservar o meio ambiente.”

OBSERVADORES

Tio Dito afirmou que os pequenos são mais observadores que os adultos. Querem saber tudo, comentam com os pais e cobram resultados. Se digo que daqui a cinco dias vai nascer a planta, no quinto dia perguntam se já nasceu.” Sophie de Melo, 4, sabe de cor todas as etapas da horta. “A gente planta a semente, rega ou espera a chuva, ela cresce e depois colhe e come. Eu gosto de colher, mais ainda a alface.”

A menina curte alimentar com folhas e cascas o minhocário que Tio Dito ganhou do Jardim Botânico. “Irrigamos os canteiros com o chorume do minhocário”, contou.

PALESTRA NA USP

Desde 2010, Tio Dito faz palestras em diversos lugares para falar sobre a horta. Em agosto do ano passado, apresentou sua iniciativa no II Workshop de Práticas Integrativas e Complementares, no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), mostrando como a comunidade cuida da escola, com capacitação e suporte do Grupo Essência Saúde Integrativa (Gesi), parceiro do seu projeto.

Ele impressionou os profissionais da USP com seus conhecimentos, inclusive quanto ao aspecto medicinal. “Parecia um sonho, eu falando para aqueles especialistas. Quando me convidaram, não acreditei. Eu sempre explico para os pequenos as propriedades de cada alimento e pesquiso muito”.

Fotos: Francisco Arrais