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Coveiro do Cemitério Saboó completa 40 anos como servidor e 20 mil sepultamentos

Publicado:
15 de agosto de 2018
15h 39

Andressa Luzirão

Entre túmulos, campas, flores, lágrimas e saudades está Nelson Kolben, 67 anos, que dia a dia tem que lidar com um difícil momento: a morte. Terça-feira (14), ele completou 40 anos na Prefeitura de Santos, 30 deles acumulando histórias como coveiro no Cemitério da Filosofia (Saboó). Ao longo de todo esse tempo, foram cerca de 20 mil sepultamentos feitos pelo ‘seo’ Gaúcho, como é chamado, que participou do enterro de personalidades da Cidade como o ex-prefeito Oswaldo Justo e a esposa Nilze Bacci Justo, o ex-deputado Emílio Justo e o ex-vereador Marcus de Rosis.

“Uma vez foram nove enterros em um único dia”, conta ele, que também já sepultou seis colegas de trabalho e enfrentou preconceito em relação à profissão um tanto folclórica. “Uma vez, uma mulher me disse que se tivesse uma filha não a deixaria casar com um coveiro. E meu vizinho não me cumprimenta com as mãos porque tem medo”.

Para ele, é preciso coragem e atitude para exercer o trabalho. Caminhando pelas alamedas do cemitério com sua companheira fiel, a cadela Lessie - “Ela não me larga”, o servidor revela, sem hesitar, os momentos que mais o tocam. “Qualquer coisa me emociona. Mas ver pais que perdem seus filhos é muito triste. Nos colocamos no lugar das pessoas”. Toda semana, conta ele, um casal idoso visita o túmulo da filha. “Trazem flores, rezam, conversam com a filha. É um amor que não morre”.

Com a chave do cemitério no bolso, Gaúcho, morador do bairro Chico de Paula, é o primeiro a chegar e o último a sair do cemitério. Ele coloca luvas nas mãos e, com auxílio de pá, sacos, vassoura, caçamba de lixo e balde, faz a limpeza da sepultura. Pega um carrinho de mão cheio de cal e areia, e se prepara para o próximo sepultamento, marcado para as 15h no quadro pendurado na entrada do equipamento. Natural do Paraná, foi como coveiro que o avô de cinco netos conseguiu criar seus dois filhos ao lado da esposa. “É um serviço honesto, como qualquer outro para mim”.

No túmulo de Maria Mercedes Féa, do lendário crime da mala, Gaúcho já viu de tudo: véu, vestido de noiva, placas de agradecimento. Mas para ele, “não é ela quem faz milagre, mas a fé que a pessoa tem. Eu tenho fé em Deus e agradeço todo dia a ele”.

Fotos: Rogério Bomfim

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