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Coleta seletiva em Santos gera emprego e promove consciência ambiental

Publicado: 18 de abril de 2019 - 14h19

Andressa Luzirão

O trabalho de coleta seletiva tirou a moradora do bairro Alemoa Silvana da Cruz, 48 anos, da estatística de desempregados. É por meio dele que ela consegue seu sustento e o dos três netos. Por consequência, também lhe propiciou consciência ambiental. Já o aposentado João Roberto Nogueira, o Maninho, 74 anos, do José Menino, passou a refletir sobre mais ações em seu condomínio que pudessem contribuir com a preservação do planeta quando seu primeiro neto nasceu, há dez anos. “Parei para pensar sobre o que será do futuro das crianças”.

Em sintonia com o programa Recicla Santos (lei complementar 952/2016), em vigor desde julho de 2017, ambos são exemplos de cidadãos que fazem a sua parte – e toda a diferença - quando o assunto é sustentabilidade. Atuando em ‘causa própria’, já que são conscientes de sua corresponsabilidade no cuidado com o meio ambiente, eles contribuem com um mundo melhor e se beneficiam disso.

Faxineira em uma empresa de tecnologia, Silvana ficou desempregada e uma prima indicou-lhe a ONG Sem Fronteira. Ela bateu à porta, pediu emprego e, há dois anos, trabalha na cooperativa onde faz a separação do lixo reciclável em jornada de oito horas diárias. “É um serviço digno. O dinheiro é pouco, mas suado e limpo. Graças a Deus, o arroz e o feijão não faltam na minha casa”.

Além da renda, o trabalho a conscientizou. “Antes, eu jogava o lixo todo na lixeira, misturava comida, jogava tudo junto. Hoje, separo tudo o que é reciclável e trago para cá. Já incentivei os vizinhos e dois deles têm até um bag. Como onde moramos tem maré, nela surge muita garrafa PET e eles enchem esse bag. Ainda tem muito a fazer, mas cada um fazendo a sua parte teremos um mundo melhor para nossos netos. Os meus estão aprendendo e ensinando os amiguinhos”.

Aumento da demanda e consciência

Atualmente, a ONG tem 40 funcionários, todos em situação de vulnerabilidade social, número oito vezes maior que antes da implementação do Recicla Santos, quando a cooperativa contava com cinco pessoas. “E temos novas vagas abertas para mais de 100 pessoas. O material reciclável exige bastante mão de obra. Antes da lei, recolhíamos 15 toneladas/mês. Agora, a média mensal é de 90 toneladas”, afirmou o presidente da entidade, Marcelo Adriano da Silva.

A cooperativa é parceria da Prefeitura desde 2016, quando passou a integrar o sistema de gestão de resíduos sólidos de Santos, desenvolvendo atividades socioambientais voltadas ao incremento da coleta, transporte, separação, triagem e comercialização desses materiais, sem ônus ao poder público.

Apesar do aumento da demanda e, consequentemente, da oferta de emprego, Marcelo chama a atenção para a separação consciente dos resíduos em casa. “É importante não destinar resto de comida, fralda, papel higiênico e absorvente sujos junto com o lixo reciclável”, afirma, ressaltando o leque de materiais de coleta seletiva como papel, plástico, metal, vidro, isopor, eletroeletrônico e óleo de cozinha.

Todo o material vai para indústrias de reciclagem em São Paulo, explica ele, informando que interessados em trabalhar na cooperativa devem comparecer no local de segunda a sexta, das 8h às 18h. Além da Sem Fronteira, 80 famílias que atuam na Cooperativa de Materiais Recicláveis Santista (Comares) também têm sua subsistência vinculada à coleta seletiva. A Comares recebe todo o material reciclável coletado por quatro caminhões da Prodesan. Ao todo, o Município conta com quatro cooperativas.

Reciclagem completa

Maninho é síndico há 23 anos no prédio onde mora há 25 com a esposa, o Edifício Savion (José Menino). Segundo ele, o Recicla Santos mudou o comportamento dos moradores. “Antes, a coleta tinha 60% de adesão entre os condôminos. Depois do Recicla Santos, 100% aderiram à reciclagem”, conta ele, que teve a iniciativa de colocar um bolsão de 150 quilos em área comum do prédio, no térreo, para o descarte dos resíduos. “Juntamos, por semana, média de 50 a 80 quilos de lixo pelos 36 apartamentos”. O montante é recolhido pela Prefeitura toda quinta-feira, dia de coleta seletiva no bairro.

Nas reuniões de condomínio, Maninho sempre coloca o assunto em pauta. E, no elevador, um recado: “colabore com a natureza”. O síndico também implementou o descarte de remédios vencidos, pilhas e baterias usadas, óleo de cozinha e captação de água da chuva em caixa de 20 mil litros. “Em duas horas de chuva forte, enchemos a caixa e utilizamos a água para lavar as garagens e regar os jardins. Aqui a reciclagem é completa”, diz ele, que se vê atuante por onde passa. “Vou à praia e não posso ver lixo. E peço para amigos e conhecidos que colaborem com a natureza”.

Efeitos do Recicla Santos

De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente (Semam), só ano passado foram mais de 12 mil toneladas de materiais recicláveis recolhidos, um aumento inédito de 265% em relação a 2017 (4.562 toneladas) e 321% em relação a 2016 (3.765 toneladas), graças ao Recicla Santos, criado em consonância com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos.

Desde a entrada em vigor do programa, residências e comércios têm obrigação de separar o lixo orgânico do reciclável diariamente. O não cumprimento pode gerar aplicação de multa.

Já grandes geradores de resíduos, que produzam mais de 120 quilos ou 200 litros de resíduos por dia, devem se cadastrar na Semam, apresentando o Plano de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos, e contratar empresa privada devidamente licenciada para a coleta dos resíduos. Mensalmente, devem comprovar à Secretaria a destinação final ambientalmente correta de seus resíduos sólidos. Caso não haja cumprimento, é lavrada multa.

Fotos: Isabela Carrari e Rogério Bomfim

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