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Teatro Guarany, do abandono a sala de espetáculos

Publicado: 5 de dezembro de 2010
20h 00

Por muito pouco, Santos não perdeu um de seus principais patrimônios, o Teatro Guarany, datado de 1882. O imóvel, palco de apresentações internacionais e reuniões abolicionistas, enfrentou decadência e foi relegado ao abandono, principalmente após incêndio em 1981. Mas, com esforços da prefeitura e da iniciativa privada, passou por recuperação e voltou a ser uma sala de espetáculos há dois anos, em 7 de dezembro de 2008. Para encanto de artistas, diretores e público.

Nesse período de renascimento, o Guarany já recebeu mais de 150 eventos teatrais, musicais, literários, sessões de cinema, exposições, festivais, congressos, encontros e fóruns. Cerca de 35 mil pessoas passaram pelo local, movimentando o entorno do teatro e contribuindo para a revitalização do Centro Histórico. Demonstrando sua versatilidade, em 2010 houve atrações como os concertos de violão, piano e canto, em homenagem a Villa-Lobos e comemorativo aos 100 anos de Noel Rosa, além de apresentações do Clube do Choro, Encontro de Corais e de Tom Zé.

Também foram realizadas mostras e shows da Virada Cultural, Mirada, Caros Amigos e Curta Santos; os tradicionais festivais de teatro Festa, Fescete e Festes; e as peças ‘O Novelo’, ‘O Recital de Sofia’ e ‘Virgem aos 40.com’. Este último espetáculo, que conta com a atriz Aldine Müller, foi apresentado pela primeira vez em Santos. “O Guarany é pé quente para mim. Ele é todo especial e sua restauração foi muito feliz, não o deixou com cara de teatro. Parece mais uma casa antiga, com ambiente aconchegante”, disse Aldine.

Formando público
Um dos diferenciais do Guarany é a contribuição para a formação de plateia, pois grande parte dos eventos é gratuita. O coordenador dos teatros municipais de Santos, Alcides Mesquita, cita como exemplo as apresentações musicais promovidas pela Secult (Secretaria de Cultura) aos domingos, às 11h.

“Muitos moradores da Zona Noroeste descobriram o Guarany e comparecem com frequência nos eventos dos finais de semana”. Outro público que tem sido atraído ao teatro é o de estudantes de arquitetura. Segundo o coordenador do Guarany, Márcio de Souza, muitos alunos e grupos ligam para agendar visitas. “Eles ficam encantados com a restauração, da combinação do antigo com o moderno, e com as pinturas do teto”.

Desafio
A obra de recuperação do teatro, do qual só restavam as paredes externas em estado precário, foi um grande desafio para os profissionais da prefeitura e contratados. As formas originais do prédio na parte externa foram respeitadas. A área interna foi refeita com infraestrutura moderna. O projeto do arquiteto Ney Caldatto, da Seplan (Secretaria de Planejamento), tinha previsão de 30 meses de obra, mas foi concluído em apenas 22.

De acordo com Caldatto, houve fases de ansiedade. “Queríamos ver logo a estrutura levantada, pois estávamos acostumados a ver o teatro abandonado. Quando a parte civil ficou pronta foi emocionante, o que motivou a fazer mudanças, como deixar as paredes descascadas para mostar a parte antiga do prédio”.

A obra teve custo de R$6,7 milhões e foi viabilizada pela iniciativa privada, por meio da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura. Os recursos foram captados pela Oscip Ama-Brasil, junto às empresas Cosipa-Usiminas, Telefonica, MRS Logística, Cutrale, Petrobras, Fosfertil, Comgás, Bunge, Copersucar e Carbocloro.

Além de plateia com 270 lugares e camarotes (capacidade total é de 350 pessoas), o Guarany também possui ateliê, camarins e café, além de permitir o acesso de pessoas com deficiências. A sala de espetáculos tem o nome de Carlos Alberto Soffredini, autor e diretor santista.

Artista morou no teatro
Outros destaques do Guarany são as pinturas do teto e do foyer do segundo piso, feitas pelo artista Paulo Von Poser. A primeira retrata cena do romance O Guarany, de José de Alencar, e da ópera composta por Carlos Gomes. A outra é uma releitura do artista para o quadro de Benedicto Calixto, que mostra Santos vista do alto do Monte Serrat.

Para fazer as obras, Poser morou por seis meses dentro do teatro, onde trabalhava todos os dias, das 15h às 3h da manhã, ao som de música clássica, jazz e outros ritmos. “Eu trouxe a música para o teatro antes dele ser inaugurado e apresentei a ópera O Guarany para os pedreiros”. Após os desenhos, ele dormia em uma rede. “Aqui foi o meu ateliê mais lindo. As obras são marcos da minha carreira de artista e como ser humano”.

Semana Wilson Geraldo
Para celebrar o aniversário da recuperação do teatro e divulgar o patrono da Escola de Artes Cênicas da Secult, que funciona nas dependências do Guarany (Praça dos Andradas, 100), será realizada de 6 a 9 de dezembro a 1ª Semana Wilson Geraldo. O evento contará com exposição de fotos de espetáculos e da vida do diretor teatral que dá nome à escola, além de série de palestras abertas à população.

No dia 6, a palestra será com a atriz Imara Reis e, no dia 7, com o diretor Roberto Lage e a atriz santista Renata Zhaneta. Eles abordarão suas vivências no meio teatral. Já no dia 8, o secretário municipal de Cultura, Carlos Pinto, falará sobre a vida de Wilson Geraldo, acompanhado de atores que trabalharam com o diretor. Encerrando a programação, no dia 9, haverá leitura dramática, com a participação de professores da escola, da peça ‘Balada de Manhattan’, que garantiu a Geraldo a conquista do Prêmio Governador do Estado, em 1972. As palestras acontecerão sempre às 20h.

Escola
A Escola de Artes Cênicas funciona desde agosto de 2009. A partir deste ano, oferece formação técnica, dividida em três anos, em interpretação, canto, dança, cenografia, figurino, sonoplastia, iluminação e direção.

Atualmente são 74 alunos, de 16 a 70 anos, que frequentam o local de segunda a sexta. O diretor artístico da unidade, Roberto Perez, destaca que o fato da escola estar atrelada às dependências do teatro é um diferencial. “Isso permite ao aluno aprender utilizando o som, sistema de iluminação, cenografia e palco, preparando-o para a área onde vai atuar”.

O aluno João Felipe, 18 anos, elogia a estrutura da unidade e disciplinas. “Aqui superou minhas expectativas”. Já Edir Ponciano, 66 anos, ressalta a seriedade e profissionalismo do curso, além da união do grupo. “É tudo que eu sonhei”.

Depoimentos

“Me sinto orgulhoso de ter contribuído para a recuperação do teatro. A cidade soube transformar uma ruína num equipamento cultural. É um exemplo”.
Juca Ferreira, ministro da Cultura

“A reinauguração e reintegração do Guarany ao Centro Histórico o recoloca no caminho que merece. Ele não é apenas um lugar simbólico de uma época, mas também se tornou espaço artístico e pedagógico atual”.
Taís Curi Pereira, autora do livro ‘Theatro Guarany - O renascer de um palco centenário’.

“O Guarany é uma maravilha. Além de bonito, é adequado às normas modernas de acessibilidade e de segurança. O teatro agrega valor para uma cidade, pois atrai eventos culturais, como seminários e cursos, que dão movimento à região central e também ajuda o turismo”.
Maurício Galvão, secretário de Turismo de Olinda (Pernambuco).

“Quando adentrei ao palco do Guarany me tornei pequenino diante da grandeza que os meus olhos erigiam ao se regalarem com aquela estrutura antiga e tão bem preservada; tradicional, respeitada e tratada com carinho; bela e aconchegante em todos os aspectos. Artista e público se encontraram e se integraram numa noite feliz e inesquecível para mim”.
Luiz Ayrão, cantor.

“Tenho certeza que o Guarany terá vida longa, com muita contribuição a dar para a cultura na região”.
Cleber Papa, diretor especialista em óperas.

“Fiquei surpreso com a história do local, que estava ocupado com uma ‘floresta’, e agora é exemplo de um programa de restauração bem executado. Isso demonstra o trabalho de uma administração municipal preocupada em preservar seus patrimônios”.
Sandro Pacheco, secretário adjunto de Turismo de Natal (Rio Grande do Norte).