Primavera Literária reúne escritores no Cais Vila Mathias

Realizado pelo Núcleo Incentivo à Palavra, do Departamento de Formação e Pesquisa Cultural, da Secretaria Municipal de Cultura (Secult), a primeira edição do Primavera Literária – Encontro dos Escritores ocorreu na noite da última quarta-feira (20), no Centro de Atividades Integradas (Cais) Milton Teixeira (Av. Rangel Pestana, 150, Vila Mathias). O evento, que teve feira de livros, cinema e muitos bate-papos, reuniu autores como Flávio Viegas Amoreira, Alessandro Atanes, Madô Martins, Regina Alonso, Uilians Uilson Santos e Marcus Vinícius Batista.

“Uma noite como essa tem várias importâncias. Você vê que tem muita gente que escreve e publica aqui na Cidade, que não se conhece muito, e aqui se mistura em grupos. Conversei com um poeta que reside na Alemoa e que escreve poesia marginal. Também conversei com acadêmicas santistas que são da orla, que estão ligadas à cultura tradicional santista”, disse o jornalista e escritor André Argolo.

Argolo, que leciona no Curso Livre de Formação de Escritores da Secult, também abordou a relevância das ações de incentivo à literatura na Cidade e aos discentes. “Não conheço outro curso público de incentivo sistemático à escrita, com teoria e prática, no País. Isso é profundamente democrático. Não é necessariamente o direito a ler e escrever, mas de ganhar iluminação suficiente para fazer isso. Tudo isso se encontra aqui”.

O escrito santista Manoel Herzog destacou a “camaradagem” entre os autores da região. “Por mais que a literatura seja uma atividade eminentemente solitária, em toda história dela nós vemos que os escritores interagiram e formaram seus grupos. Uma cidade como Santos tem grupos distintos em sua formação, mas que no final têm aquela camaradagem. Somos leitores de nós mesmos”.

Herzog comenta o interesse pela literatura em tempos de crise. “Talvez o sofrimento que nós estamos amargando hoje leve o povo a buscar um lenitivo maior na literatura. Talvez as pessoas estejam lendo mais por isso, ou precisando ler mais poesia para atravessar a realidade que o País está atravessando”.

Tradição

Flávio Viegas Amoreira destacou a tradição santista na literatura. “Esse evento é fundamental para rastrearmos, conhecermos e identificarmos as vozes literárias de uma comunidade e, principalmente, uma comunidade com a história de Santos. Já foram citados aqui nomes como Plínio Marcos, Patrícia Galvão, Roldão Mendes Rosa, Narciso de Andrade, Martins Fontes, Vicente de Carvalho e Rui Ribeiro Couto. Santos é visceralmente um município literário”.

Marcus Vinícius Batista ressaltou que um encontro como o ocorrido no Cais Vila Mathias constitui importante espaço para a troca de experiências. “A produção literária é dispersa. É uma ação solitária em que você trabalha fechado no gabinete, no seu escritório e não tem muito contato com outros colegas que estão produzindo. Então, um evento como esse é importante porque você consegue ver o autor atrás da obra. Dá para conversar um pouco, trocar ideias sobre métodos de produção, trocar livros. Aqui temos a convivência, a união. Você vai aprender no diálogo”.

Formação de escritores

Em sua primeira edição, o Curso Livre de Formação de Escritores, da Secult, realizado no primeiro semestre deste ano, ofereceu 20 vagas. Para o próximo ano, novas propostas serão adaptadas.

“Notamos que havia uma demanda, uma necessidade desse curso. Percebemos que as pessoas queriam escrever e aprimorar a escrita. Estruturamos a ideia que tínhamos para as aulas com a proposta de abarcar pessoas de pouca e muita experiência com escrita, e trabalharmos muito a ideia de autonomia do autor e a busca da voz autoral, que é a espinha dorsal do curso”, disse Carol Zuppo Abed, uma das idealizadoras do curso ao lado da servidora pública Milena Graziela.

Durante as aulas, os participantes são instigados a escrever e refletir sobre textos de ficção, não ficção e poesia. O curso também oferece workshops voltados para possibilidades concretas de publicação das obras.

Fotos: Marcelo Martins