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Carnaval de Santos, das ruas à passarela do samba

Publicado: 4 de fevereiro de 2010
20h 00

O Carnaval é uma tradição em Santos desde o final do século 19, quando o povo se divertia pelas ruas e, na Praça Mauá, aconteciam bailes de máscara. Nessa época, um dos principais foliões do município era o médico Henrique da Cunha Moreira, da pioneira Sociedade Carnavalesca Santista. Em sua homenagem foi batizada uma via no bairro da Encruzilhada onde hoje, coincidentemente, reside outra figura ilustre: José Muniz Júnior, 75 anos, o marechal do samba.

J. Muniz Jr., como prefere ser chamado, viveu grande parte dessa festa popular na cidade, além de ter se tornado pesquisador e especialista sobre o assunto. Ele é autor de livros como ‘Panorama do Samba Santista’, ‘Do Batuque à Escola de Samba’ e ‘O Samba Santista em Desfile’. E a sua pesquisa começou in loco (no local), na década de 40, ainda criança, quando brincava o Carnaval no Centro Histórico, levado por seu pai.

“A Praça Mauá era a apoteose e a José Bonifácio a Meca do Carnaval, onde os foliões se concentravam”, conta, se referindo a festa feita por blocos, choros, cordões, ranchos e, mais tarde, pelas escolas de samba. À época, a festa também era concorrida nos salões, ao ritmo de grandes orquestras. “Mas sempre gostei mais da rua”.

Em 1948, o marechal acompanhou os blocos ‘Ases do Paquetá’ e o ‘Bloco dos Sujos’, no Centro, no qual os foliões passavam carvão no rosto para se fantasiar. A partir daí, tocando tamborim, também curtiu o ‘Tribo Aimoré’ (Paquetá), o imbatível ‘Chineses do Mercado’ e o ‘Agora Vai’, marcado pela crítica à política, e muitos outros.

As escolas de samba começaram a surgir em Santos em 1939, com a presença da ‘Não É o que Dizem’, nos festejos comemorativos do centenário da elevação de Santos de vila à cidade. Depois vieram outras agremiações: Dois Pinguins (1940), Número Um do Canal 3 (1941), Aí Vem a Favela (1942) e a X-9 (1944), onde J. Muniz começou sua trajetória em 1955, participando de uma ‘prova de fogo’ para entrar na bateria da escola. Começou no tamborim, aprendizado dos blocos, passando por vários instrumentos (agogô, reco-reco, chocalho, cuíca, entre outros).

Depois foi passista e tornou-se o primeiro mestre-sala em Santos, cultura trazida do intercâmbio com o Rio de Janeiro. Era apenas o início de uma história de cerca de 60 anos em participação nas escolas de samba, entre X-9, Brasil e União Imperial. “Havia preconceito contra as escolas, diziam que era coisa de marginal”. Em 1985 veio a homenagem da extinta Império do Samba, que o agraciou com o título não oficial de marechal do samba. A oficialização do posto veio em 1986, quando recebeu a faixa e o bastão de comando das mãos do então prefeito Oswaldo Justo, com o batismo do rei momo Waldemar Esteves da Cunha.

Em 2000, outra coroação, o título de cidadão samba. Do ano seguinte até 2005, Santos ficou sem desfile oficial das escolas, duro golpe mas que não decretou o fim do Carnaval na cidade. Em 2001, teve início o Carnabonde, na Praça Mauá, com o objetivo de revitalizar o Centro Histórico e manter vivo o glamour dos antigos carnavais e, em 2006, foi retomado o desfile oficial das escolas. “Santos é uma cidade batuqueira e carnavalesca por excelência, herança que vem dos tempos dos escravos nos quilombos”, afirma J. Muniz Jr.

RETOMADA
No início da década de 1940, a marca do Carnaval santista eram as ‘batalhas de confetes’, disputas de blocos, choros, entre outros, em diversos bairros, que valiam prêmios em dinheiro. Somente em 1947 ocorreu a primeira disputa envolvendo escolas de samba, na Rua General Câmara, por iniciativa de jornais, emissoras de rádios e cronistas carnavalescos, com o apoio dos comerciantes do centro da cidade. Na ocasião foi campeã a X-9 e vice, a extinta Vitória.

Em 1954 aconteceu o primeiro concurso extra-oficial, organizado e com subvenção da prefeitura, na praia do Gonzaga, vencido pela Brasil. Dois anos depois, em 1956, foi realizado o primeiro desfile oficial, cumprindo a lei municipal n° 1761 do prefeito Antonio Feliciano, resultado do projeto de lei n° 64, apresentado um ano antes pelo vereador Walter Roux Paulino. Na ocasião, o primeiro lugar foi dividido entre a X-9 e a Brasil. A partir daí o evento foi evoluindo ano a ano até chegar a ser reconhecido entre os melhores do país.

Em 1997, uma ação civil ajuizada pelo Ministério Público proibiria a realização de desfiles, blocos carnavalescos, trios elétricos e espetáculos congêneres nas avenidas da praia e adjacências. Em 1998, foi para a faixa portuária e, no ano seguinte, não foi realizado. Já em 2000 foi retomado na orla graças a uma liminar de efeito suspensivo conseguida pela prefeitura na Justiça. De 2001 a 2005, a cidade ficou sem o espetáculo, retomado pela administração municipal nos dias 26 e 27 de fevereiro de 2006, na Passarela de Samba Draúsio da Cruz, construída no terreno do Estradão (Zona Noroeste). Foram 13 escolas e público de 5 mil pessoas. Em 2010, nos dias 13, 14 e 15 de fevereiro, se apresentarão 15 agremiações, divididas em grupos especial e II, e a capacidade será de mais de 12 mil espectadores, dando assim continuidade à tradição de mais de 60 anos.

CAMPEÃS* (1947 a 2009)
1947 – X-9 (Batalhas de Confete da Rua General Câmara, do Gonzaga e do Brooklin Santista) e Vitória (Carnaval da Paz).
1948 – Vitória (Batalhas de Confete do Marapé e do Macuco) e X-9 (Batalha de Confete da General Câmara).
1949 – X-9 (Batalha de Confete da Cidade).
1950 – X-9 e Brasil (Batalha de Confete da Cidade).
1951 – Brasil (Batalha de Confete do Gonzaga).
1952 - Brasil e X-9 (Batalha de Confete do Marapé).
1953 – Brasil e X-9 (Batalha de Confete da Rua João Pessoa).
1954 – Brasil (Concurso extra-oficial).
1955 – X-9 (Concurso extra-oficial) e Brasil (Batalha de Confete do Brooklin Santista).
1956 – X-9 e Brasil (Concurso oficial).
1957 – Brasil (Concurso oficial).
1958 – Brasil (Concurso oficial).
1959 - Brasil (Concurso oficial).
1960 - Brasil (Concurso oficial).
1961 - Brasil (Concurso oficial).
1962- Brasil (Concurso oficial).
1963 - Brasil (Concurso oficial) e Batutas de Voturuá (Grupo B).
1964 – X-9 (Concurso oficial).
1965 – Império do Samba (Concurso oficial).
1966 – Império do Samba (Concurso oficial).
1967 – Império do Samba (Campeonato estadual).
1968 – Império do Samba (Campeonato estadual).
1969 - Império do Samba (Campeonato estadual).
1970 - Império do Samba (Campeonato estadual).
1971 – Não houve campeonato.
1972 – Império do Samba (Concurso oficial).
1973 – X-9 (Concurso oficial).
1974 – Império do Samba (Concurso oficial).
1975 – X-9 (Concurso oficial).
1976 - X-9 (Concurso oficial).
1977 - X-9 (Concurso oficial) e Amazonense (Grupo II).
1978 - X-9 (Concurso oficial) e Acadêmicos de Santa Cruz (Grupo II).
1979 - X-9 (Concurso oficial) e Favoritas do Sultão (Grupo II).
1980 – Padre Paulo (Concurso oficial) e União Imperial (Grupo II).
1981 - X-9 (Concurso oficial) e Independência (Grupo II).
1982 – Padre Paulo (Campeonato Regional) e Unidos dos Morros (Pleiteantes).
1983 – X-9 (Campeonato Regional) e Unidos da Zona Noroeste (Pleiteantes).
1984 – Padre Paulo (Concurso oficial).
1985 – União Imperial (Campeonato Regional).
1986 – União Imperial (Campeonato Regional) e Independência (Grupo II).
1987 – União Imperial (Campeonato Regional) e Mocidade de São Miguel (Grupo II).
1988 – União Imperial (Campeonato Regional) e Caprichosos de Santos (Grupo II).
1989 – União Imperial (Campeonato Regional) e Acadêmicos da Ilha de Santo Amaro (Grupo II).
1990 – X-9 (Campeonato Regional) e Mocidade de São Miguel (Grupo II).
1991 – Brasil (Campeonato Regional) e Padre Paulo (Grupo II).
1992 – Amazonense (Campeonato Regional) e Unidos dos Morros (Grupo II).
1993 – União Imperial (Campeonato Regional) e Nações Unidas (Grupo II).
1994 – União Imperial (Campeonato Regional) e Real Mocidade (Grupo II).
1995 – X-9 (Campeonato Regional) e Mocidade de São Miguel (Grupo II).
1996 – X-9 (Campeonato Regional) e Guarujá (Grupo II).
1997 – Padre Paulo e União Imperial (Campeonato Regional) e Mocidade São Miguel (Grupo II).
1998 – X-9 (Concurso oficial).
1999 - Não houve desfile.
2000 – Padre Paulo (Desfile oficial).
2001 a 2005 – Não houve desfile.
2006 – Brasil, Padre Paulo e Sangue Jovem (Desfile oficial).
2007 – Brasil (Desfile Oficial).
2008 – X-9 (Desfile Oficial).
2009 – Amazonense (Desfile oficial) e Vila Mathias (Pleiteantes).

* Fonte: Livro ‘O Samba Santista em Desfile’, de J. Muniz Jr (1999) e Prefeitura de Santos.